Resiliência em redes de interações ecológicas no cerrado: impacto do fogo intenso na biodiversidade interativa

por Brenda
Publicado: 02/07/2018 - 14:15
Última modificação: 22/09/2023 - 08:01

O Antropoceno é perverso com as savanas tropicais, do cerrado brasileiro restam menos de 7%, em grande parte fragmentado e muito afetado pelo fogo. Por 30 anos lidero um grupo de pesquisas que investiga as interações ecológicas animais-plantas no cerrado, e nossas publicações indicam que a biodiversidade interativa, mapeada com redes ecológicas, pode estar se degradando mais rapidamente do que o esperado, pelo aquecimento global e fogo intenso. Nos últimos dez anos mostramos que a região de cerrado que estudamos sofreu quase 1ºC de aumento médio em temperatura, ocasionando em espécies de Malpighiaceae, ruptura em floração sequencial, com prejuízo à fauna associada de herbívoros, predadores e parasitóides. Os sistemas multitróficos que estudamos (plantas, herbívoros, formigas, aranhas, polinizadores, dispersores de sementes) nos permitiram ao longo dos anos mapear através de redes ecológicas as principais espécies associadas, a modularidade e conectância das redes, assim como manipulações experimentais de campo revelaram o papel funcional de cada organismo envolvido e os resultados dessas interações, em geral condicionais. Os fatores condicionando os resultados dessas interações decorrem principalmente da variação fenológica dos produtores, aspectos biológicos e comportamentais dos consumidores associados, e a fatores físicos (meteorológicos) e antrópicos (fogo). Em julho de 2021, a reserva de cerrado sofreu duas geadas, seguidas em setembro por um incêndio devastador, que atingiu em especial o estrato arbustivo. Vimos nisso a oportunidade de acompanhar a resiliência das redes ecológicas de interações previamente documentadas, avaliar a perda e/ou recuperação da biodiversidade interativa, além de testar experimentalmente se os resultados das interações ecológicas (herbivoria, defesa biótica induzida, polinização) serão mantidos. Essas três linhas de investigação que envolverão o uso de redes ecológicas multicamadas/multiplex (primeira vez no cerrado), nos permitirão testar nossa hipótese de que a composição das redes ecológicas pode se alterar no tempo e espaço, mas que os resultados das interações ecológicas se mantêm demonstrando a resiliência das interações e confirmando uma das premissas básicas da teoria dos mosaicos geográficos evolutivos de John N. Thompson. Este projeto tem sido mantido em bases contínuas desde 2012 com financiamentos de diferentes agências de fomento a projetos específicos do coordenador, inclusive bolsa de produtividade do CNPq.